ALEXANDRE (Z HQ) CARVALHO é jornalista por formação; artista gráfico por impulso; músico por amor e escritor por compulsão. Nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul; e renasceu na Internet, mundo. É autor do livro A Teoria das Sombras (2007 – Oikos Editora), da Coleção Gibicróbio (2010 – BIFE editorial) e da HQ Halvin & Caroldo (2011 – BIFE editorial); é ilustrador freelancer; é pós-graduado em Teoria da Comunicação; ministra cursos de desenho, de desinibição textual e escrita criativa, histórias em quadrinhos e oficinas de mini-comics na Palavraria, na Koralle, no Colégio Israelita, na Escola Projeto e em agências de propaganda, endomarketing e assessorias de comunicação em Porto Alegre, e na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo; é palestrante e ministra oficinas sobre criatividade nos mais diversos lugares e para os mais diversos públicos; compôs, dirigiu, executou e coloriu o álbum de música experimental contemporânea Pintura Sônica (2007); é o idealizador do projeto Desenhando Na Rua; é criador do projeto Lori-Jel, que visa espalhar HQs pelo mundo, e da banda de música fictícia Traquitana Vulnerável; alimenta vinte blogs ao mesmo tempo; é Diretor Executivo da BIFE editorial - estúdio de criação; vencedor do Primeiro e do Segundo GoGoComics Awards de mini-comics; compõe trilhas sonoras para teatro e espetáculos de dança; compôs, arranjou, gravou e lançou o single Samba Triste – o primeiro samba progressivo do mundo (2010/2011); e adora livros, música, HQs, produção independente, café(s), quindins, pistaches e outras coisas encantadas.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Depoimentos de quem já vivenciou o poder da criatividade


Alexandre Carvalho não ensina, ele propõe experimentos, sensações que acionam a sensibilidade por todos os poros do corpo que permitem contato entre tudo aquilo que está dentro da gente e o que está fora. É a partir disto que a escrita sugerida em seus laboratórios é acionada, criada e inventada. É uma forma de escrever que provoca e produz um viver/pensar/escrever singular e potente para se reinventar.”

Patrícia Spindler




“Os encontros com o Alexandre Carvalho sempre interessantes e divertidos. Mais parecem um encontro entre amigos que não dá vontade de ir embora, apesar dos compromissos. É tão bom que não pode ser chamado de aula! Que saudade!”

Liliane Silva Greuner



“Fazer a oficina de redação criativa do Alexandre Carvalho é uma oportunidade que vale a pena vivenciar, pois descobrimos novas formas de explorar a escrita, usando recursos criativos, em que os sentidos são trabalhados e potencializados para ajudar na inspiração da composição do texto.”

Criz Azevedo



Alexandre Carvalhotanto nos cursos de histórias em quadrinhos como nos de escrita criativa, propõe exercícios que estimulam a criatividade e a desinibição dos alunos; o ato de perder o medo da ‘folha em branco’. Ele incentiva a ter um olhar mais sensível às coisas que, de tão rotineiras, não são mais percebidas."

Jeferson Jacques



Alexandre Carvalho me fez entender que criatividade não é uma fórmula, é uma técnica. Que talento se desperta, se desenvolve. Bem como nossos gostos, nossas crenças e nossas vocações. Mostrou-me em sala de aula que cultura geral, estilo, personalidade e arte podem estar relacionados a uma mesma pessoa.”

Bruno Seidel


“Um excelente profissional de fácil comunicação e extremamente objetivo nas suas aulas: ‘coloca a galera pra trabalhar’, exercita a criatividade e estimula a participação de todos. De forma clara e sucinta expõe as suas aulas e explica bem o seu conteúdo.”

Cassius Marcelo



“Adorei as aulas do Alexandre Carvalho! Ainda mais quando ele tocava aquele violão. O moço, eu pensava, além de ensinar muito bem como escrever usando a criatividade sem receio, ainda sabe cantar! Só tenho a agradecer pelos valiosos ensinamentos."

Daiane Mendes Luz



“Oficina de Desinibição Textual e Escrita Criativa: excelente em todos os sentidos. Apresentação e modalidades de atividades. Postura respeitosa e amistosa do professor proporcionando um ambiente descontraído e de prazer o tempo todo. Professor com muita cultura e domínio das técnicas e situações referentes ao trabalho proposto. Trabalho fundamentado na Arte por ela mesma enquanto base universal de criatividade comum a todos os indivíduos.”

Janice Jandrey dos Santos.



Procurei o curso em um momento de bloqueio criativo e crise de identidade profissional. Foi uma baita oportunidade de descobrir que a criatividade não tinha esgotado, apenas precisava da ajuda de um expert para voltar a ativa novamente.”

Camila Lessa



Ter aula com Alexandre Carvalho é algo realmente gratificante. Você é instigado, desafiado e convidado a pensar. E pensar é, acredito eu, um exercício maravilhoso! Então, em minha opinião, ele não é só ‘Lehgau’, mas ‘TRI LEHGAU’!”

Frank de Souza



“O raciocínio exercido e puxado pelo Alexandre Carvalho na arte de buscar a criatividade de cada aluno é imenso como ele próprio. O cara não ensina, o cara desperta!”

Parahim Neto



Entre as pessoas que passam por nós, algumas produzem efeitos seriíssimos. Depois delas, impossível fazer as coisas meramente, simplesmente, 'gerundiamente', medianas.

"Alexandre Carvalho faz isso. A gente cruza com ele, pode ser numa aula de criação de personagens ou de história em quadrinhos, e nunca mais  vai transitar pelos dias sem prestar atenção em tudo, porque lembra que tudo  pode ser transformado em Arte.

Alexandre tem a sabedoria de quem vive a Arte 24 horas por dia. Sua inquietude e criatividade pulsantes, em pequenas doses de confeitos coloridos, contagiam e nunca mais nos deixam em paz.”

Ana Lúcia Pompermayer




“Começa na primeira impressão. Veio Alexandre Carvalho com um skate embaixo do braço no primeiro dia da Oficina de Criação de Personagens. É aqui, todos concordaram; é aqui. Só pode dar certo! Deu. Foram quatro meses de boas conversas, de experimentações. Discutimos e praticamos a disciplina e a anarquia, seres regrados e caóticos no desafio de criar. As provocações de Alexandre faziam nascer sustos com a possibilidade de fazer o que já estava em nós. ‘Escrevam agora!’. Escrevemos. Lemos. Debatemos. No meu caso, fruto de muito do que vivenciei ali, rolou até um livro depois da Oficina: ‘História de não acontecer’ (Modelo de Nuvem, 2010); o protagonista e sua história nasceram na Oficina do Alexandre Carvalho, nos nossos animados encontros semanais. Encontros abertos, produtivos, sinceros. Muitos papos, muita literatura, música, arte, projetos. E você faz amigos de infância nas aulas dele. Alexandre Carvalho, alma e voz de artista (não basta ser, é preciso também parecer. E vice-versa), parceiro pacas, atento e incentivador da libertação das ideias, pelo bem da arte, das coisas bacanas, da vida.”

Reges Schwaab



 
“Quem não for instigado pela voz de timbre grave do Alexandre Carvalho, está na sala errada. Com sua narrativa atrativa, seu humor underground, e suas citações que vão de Shakespeare a Alan Moore, Alexandre desenvolve sua oficina com uma mescla de variados assuntos e vivências. Uma sopa de criatividade.”
Robson Rodrigues Klein

sábado, 4 de junho de 2011

O que é a Palestra Oficina Sobre Criatividade


Vivemos em um tempo de transformação. Um tempo de renovação de ideias e comportamentos. Um tempo de novas direções. Um tempo marcado pela crescente complexidade em todas as áreas e por uma demanda permanente de novas respostas e da necessidade indubitável de inovação. Vivemos em um tempo rápido. Um tempo multidisciplinar. Um tempo com sede do novo. Um tempo maravilhoso.
E para suprir as necessidades deste tempo temos de estar atentos. O tempo todo. Nossa realidade atual exige cada vez mais de cada um o uso constante de uma capacidade que nos é cara e inata, mas que, por vezes, permanece adormecida em nós. Nossa realidade atual exige cada vez mais de nós o uso constante de nosso POTENCIAL CRIATIVO! Esse potencial poderoso e transformador. Esse potencial que é, sem dúvidas, o bem mais precioso que indivíduos e organizações dispõem para lidar com os desafios que acompanham esta nossa época; em que as incertezas, o progresso e as mudanças são uma constante.
E criar, ainda que possa parecer algo distante para alguns é, de fato, uma característica inerente a todo ser humano. Todos nós somos criativos. Basta que saibamos como e onde buscar inspiração.

Mitos
Ao contrário do que se diz por aí, criatividade não é privilégio de artistas. Ou de cientistas. Ou prerrogativa básica reservada apenas para os gênios. A criatividade se faz necessária em toda e qualquer área de nossas vidas. No nosso dia-a-dia. Dia após dia. Todos os dias. Desde a aquisição de novas maneiras para sobreviver financeiramente e evoluir na profissão, até para conquistar e preservar um grande amor.
Porque criatividade não é um compromisso ou meta inatingível, disponível só para os outros. A criatividade é e tem de ser uma filosofia de vida. A criatividade é uma atitude de vida; uma postura frente ao mundo.


Caos

Estamos em pleno caos filosófico/criativo. Todas as grandes metanarrativas históricas ruíram. Foram por água abaixo: marxismo, capitalismo, e todos os “ismos”. Alguns acham isso terrível. O filósofo Francis Fukuyama chegou a declarar o fim da história. Eu penso que vivemos a melhor de todas as épocas. Temos tudo a nossa frente para recriar. Temos toda uma era para reinventar. E somos livres para experimentar. E, com uma grande vantagem em relação aos nossos antepassados: um inesgotável cabedal de informação.

Vivemos hoje a pós-modernidade, ou o pós-iluminismo, ou, ainda, conforme o pensador Gilles Lipovetsky, a hipermodernidade. A era das luzes já se foi. E teve toda a boa vontade e soberba de querer explicar tudo. Sim, tudo teria uma explicação. Tudo caberia em um fichário. Tudo seria devidamente compartimentado para que quando se precisasse, teríamos só que olhar no índice e puxar a gavetinha certa. Fomos presunçosos, é preciso que se diga. Mas fomos realmente iluminados ao experimentar, recolher e criar muita informação que nos serviu e serve demais até hoje.

Evolução

O iluminismo foi sem dúvidas um degrau na evolução. Mas não conseguimos o intento de encarcerar o conhecimento todo do universo inteiro em uma imensa enciclopédia. Porque isso não é possível. Porque sempre haverá mistérios. Nem tudo tem uma explicação. Há coisas que são “só coisas”. Não são nem boas, nem más: apenas SÃO. E o nosso grande ganho foi e está sendo entender que o universo não é (e nem nunca foi) maniqueísta. Há muito mais tons e semitons entre o preto e o branco do quis catalogar o iluminismo. Há muito mais nuances entre o sim e o não do que sequer se pode perceber entre as relações.


Aprendizado

Descobri em meus estudos e pesquisas sobre o tema – e na prática nas mais diversas salas de aulas e para os mais diversos públicos –, que criatividade, antes de ser uma espécie de dom, é altamente “ensinável” e aprendível. Criatividade é exercício diário.  Os nossos tempos atuais, de abundância de informação, exigem criatividade para as mudanças necessárias. E só com ela é que conseguiremos vencer a nós mesmos (por vezes nossos melhores amigos, por outras nossos piores inimigos).


Enfim

E como funciona a Palestra Oficina Sobre Criatividade?!

Pois bem: a Palestra Oficina Sobre Criatividade é uma atividade dinâmica e multidisciplinar que envolve fala, conversação, escrita, desenho, teatro, música, dobradura, recorte e bons sentimentos.

Por um período de duas a três horas (dependendo da quantidade de participantes), passeia-se por várias áreas e atividades lúdicas trabalhando sempre questões relativas aos bloqueios e aos desbloqueios da capacidade criativa de cada um.

Ao final, os resultados são sempre os melhores possíveis, e cada participante constrói dicas e possibilidades para um dia-a-dia mais criativo e, por consequência, mais feliz.



Informações sobre valores pelo e-mail: palestraoficina@gmail.com

O dia em que Darwin errou

Alexandre Carvalho da Rosa

Nós, os seres humanos, como espécie, teríamos tudo para dar errado já que não possuímos muitos dos atributos de outros coleguinhas do reino animal. Só para citar dois destes atributos: temos, por exemplo, a mandíbula fraca, se comparada à dos grandes felinos; e nossa prole fica muito tempo na dependência dos pais, ao contrário dos filhotes de pássaros que em poucos meses já estão prontos para decolar.

Mas, por mais incrível que possa parecer, nossa espécie conseguiu transformar esses pontos fracos em fortes. Foram exatamente essas fraquezas que nos levaram a criar instrumentos maravilhosos, extensões de nós mesmos, como – além da roda e da habilidade de produzir fogo, é claro –, a escrita, a prensa, a telefonia móvel, os cérebros eletrônicos, os motores e os pedaços de nós mesmos como peças de reposição.

E para isso não foi necessário ser forte.

Há cerca de 2,5 milhões de anos o Homo habilis, surgido na África, mais especificamente no Quênia, ao utilizar as mãos para lascar pedras e fazer machadinhas e outros instrumentos e utensílios, manifestou o que se conhece como a primeira expressão de criatividade da humanidade. A partir da ilha de Java, na Indonésia, difundindo-se para a Europa e a África, de 1,5 milhão de anos até 300 mil anos, o Homo erectus já dominava a arte de fazer raspadores e facas de qualidade superior. Derivada do Homo erectus, de 500 mil anos até cerca de nove mil anos, direto das savanas africanas, surgiu uma nova linhagem: o Homo sapiens; que, há aproximadamente 30 mil anos, criou os primeiros arcos e flechas e seguiu criando ao utilizar o couro e o osso para fabricação de artefatos, lamparinas de óleo e agulhas para cerzir roupas e calçados. Até que descobriu a agricultura e fixou-se em terras férteis com água em abundância e deixou de ser nômade. E os avanços não deixaram mais de ocorrer e em ciclos cada vez menores.

Daqui para adiante podemos passar pelos gregos e os mitológicos criativos atenienses, Dédalo e seu filho Ícaro, e a invenção do labirinto, encomendado pelo rei de Creta, Minos, para aprisionar o Minotauro. A qual, ao desagradar o rei, acabou por fazer com que ambos, pai e filho, fossem condenados a prisão. Ato que, por consequência (ainda que Ícaro tenha passado dos limites), leva-os a usar mais uma vez a criatividade para escapar, inventando asas feitas de cera e penas.

E podemos ir em frente citando a Idade Média e o uso da pena de ganso para a escrita. E incluindo as grandes e revolucionárias invenções chinesas: a pólvora, a bússola, o papel e a prensa. Sem esquecer que as duas primeiras adicionadas da vela e do timão impulsionaram a navegação e a consequente colonização européia e outras partes do globo. E as duas últimas foram essenciais para registrar e espalhar o conhecimento, tal como o conhecemos hoje, por todos os cantos do mundo.

O século XVIII, com a criação de novas fontes energéticas, como o vapor e a eletricidade, culminou em uma verdadeira reestruturação social que induziu-nos às sociedades urbanas e à divisão do trabalho. Com essas bases, o século XIX foi marcado pela produção em massa.

E daí chegamos ao mundo pós-industrial, ou pós-moderno, ou pós-iluminista, ou, ainda, hipermoderno, onde privilegiamos menos a produção em massa do que produtos exclusivos, fabricados em pequenas quantidades e com o toque pessoal do autor. Um tempo em que, como diz o pensador francês Gilles Lipovetsky, o ser humano é um narciso responsável, com um olho focado em si mesmo enquanto o outro espia ou apóia alguma causa social; da reciclagem de lixo à preservação do planeta.

E tudo isso por força da inadaptação e da sua consequente criação de necessidades; da intuição; da inteligência; da perspicácia; da persistência (porque criar é um ato, ou vários atos, que se movimentam entre tentativas e erros e novas tentativas até o resultado final); e o prazer de ter chegado lá, de ter construído algo, não importando em que área do conhecimento estejamos envolvidos.

Isto posto, sinto dizer, mas, neste sentido, o caro senhor Charles Darwin estava errado. Conforme a sua teoria da evolução das espécies: só os mais fortes sobreviveriam. Mas, passados tantos anos, é possível afirmar com propriedade que não; não são os mais fortes que sobrevivem, mas os mais criativos. Os mais afortunados foram e continuam sendo aqueles que conseguiram passar seus genes para frente convertendo revezes em vitórias. Ou, em outras palavras: agarrando e espremendo o limão e saboreando, como resultado, um esplendido suco da fruta.

Criar é “criançar”

Alexandre Carvalho da Rosa

Quando nascemos e somos apresentados às primeiras noções de vida, somos levados, ainda que sem a devida consciência, a um desespero misturado a um imenso fascínio. Temos tudo pela frente, tudo a aprender, tudo a despertar, tudo por fazer; e a total liberdade para tomarmos os caminhos que preferirmos. Não há regras a serem seguidas; e nem, por óbvio, quebradas. Somos livres e é só. À medida que o tempo passa: códigos, normas, leis, preceitos, princípios, regulamentos, tradições, compromissos e formatos vão aparecendo e nos sendo impostos; para o nosso bem, para o nosso mal e para a manutenção das relações entre as gentes. É assim que conseguimos nos entender; e entender o que se passa a nossa volta. Mas o que nos dá segurança é também o que nos leva ao seu oposto. Depois de embrulhados, carimbados e etiquetados para a distribuição e para o consumo, fica bastante difícil de fazermos um pequeno rasgo na embalagem a fim de observarmos o que está a acontecer do lado de fora. Até mesmo porque, por força dos hábitos, não possuímos ferramentas para tal; nossas unhas já estão gastas de tanto aranhar o invólucro por dentro e nossas mandíbulas já não têm mais forças para arrebentar o barbante. Ou simplesmente porque nem nos damos conta de nossa condição.

Costumo dizer em meus cursos de Desenho Básico e de Histórias em Quadrinhos que toda a criança nasce sabendo desenhar. E saber desenhar é algo bastante relativo. Todos nós já desenhamos um dia, não há como negar. Mas aí começamos desde muito cedo a escutar críticas relativas aos nossos desenhos, muitas vezes por absoluta ignorância das pessoas que nos cercam, presas aos seus modelos em geral já desgastados. “Não é assim que se desenha o olho”, “a cabeça está muito grande”, “a casa está muito pequena em relação ao menino”, “onde está rabo do cachorro?!”. E vamos criando e reforçando um senso crítico distorcido a respeito de nós mesmos e das nossas habilidades.



Sobre a escrita

Para escrever é preciso, acima de tudo, sensibilidade, imaginação e coragem – qualidades e possibilidades que a criança tem de sobra e ao natural. Sensibilidade para absorvermos o que se passa conosco e o que passa através de nós; imaginação para transformarmos e reciclarmos a nossa absorção em formato de texto; e coragem para nos expormos perante o(s) outro(s), porque parte do nosso eu mais interno, intenso e subliminar está sempre, de alguma forma, contido em nossas obras.

Crianças são sentimento puro ao executarem seus “trabalhos”. Crianças não pensam antes de fazer: saem fazendo. E sequer cogitam se estão executando certo ou errado, ou bonito ou feio, ou isso ou aquilo. Não até que comecem as comparações. Tanto em minhas aulas no Curso de Desinibição Textual e Escrita Criativa, quanto para com a minha própria escrita de todo dia, defendo que o nosso verdadeiro tesouro vem dos primeiros pensamentos que nos surgem, porque estão livres da nossa interferência. Livres do nosso eu carrasco que pensa sempre que aquilo podia ser melhor, mesmo antes de ser registrado no papel. E é aí que tudo se perde. Por isso sou defensor da técnica do fluxo de consciência para iniciar um texto, seja lá de que tipo queiramos que ele seja.

A técnica é simples, ou ao menos deveria ser: sem jamais olhar para a página em branco, sair escrevendo sem parar tudo que vier à mente. Sem rasurar nem voltar atrás para reescrever ou rever o que escreveu ou para “engatilhar” ideias. É só escrever e escrever. Deixar fluir. Deixar-se fluir. Não pensar, não tentar ser lógico, racional. Ir fundo, direto na jugular. É importante que comecemos a escrever como um animal que urra de dor, de maneira rude e desajeitada. Só então encontraremos nossa inteligência, nossas palavras, nossa voz.



Saindo do umbigo

A criança não tem preocupações. Está onde está e nunca no passado ou no futuro. Vive o presente; o aqui e o agora. E está sempre submissa ao que ocorre ao seu redor, assimilando a tudo sem conceitos preestabelecidos. É importante também que sejamos mais submissos ao mundo, às coisas, às cores, aos sons, aos cheiros, aos sabores, ao toque, aos sentimentos e às ideias dos outros. É aí que se encontra a nossa matéria prima. É daí que vamos tirar novas ideias e confrontá-las com as nossas velhas e desgastadas. Quando ficamos o tempo todo atolados dentro de nossos próprios umbigos não aprendemos nada. Vivemos colados à ignorância com a ilusão de que sabemos muito, mesmo porque esse tipo de pensamento é típico de quem ignora. Aprender é fundamental; não é para outra coisa que estamos aqui. E aprendizado é troca de informações.



Expectativas

Evito também criar expectativas desmedidas quanto ao resultado do trabalho. Quanto maiores as expectativas, maior a pressão interna para que saia o melhor de todos os textos já escritos na face da terra. O que já é noventa e nove por cento das possibilidades de bloqueio criativo. A qualidade será atingida mais tarde, com empenho, dicionários e gramáticas a postos, leituras, releituras e o escrever e reescrever e reescrever e reescrever se preciso for; não no momento da criação. Ainda que, por vezes, ao liberarmos a mão, a mente e a alma em direção à página em branco, possamos nos surpreender muito positivamente com os resultados imediatos. O fluxo de consciência é sempre um bom exercício para obtermos um termômetro de nossa rigidez interna.



Seduzir sempre

Devemos ser sedutores sempre no que quer que façamos. E quando falo em sedução estou me referindo, é claro, ao ato de provocar encantamento; desencadear o fascínio; provocar a atração alheia (e até a mesmo a nossa) para o que temos a apresentar. Pessoas gostam de e anseiam por ser seduzidas o tempo inteiro. Os produtores de programas televisivos ou os envolvidos com o cinema ou a publicidade e a propaganda sabem muito bem disso. Seduzir é o foco principal deles, e deve ser o nosso também.

Crianças são seres sedutores por natureza. Somos todos apaixonados por elas, as crianças. Elas nos encantam com sua naturalidade e até com o seu despreparo com relação à vida que apenas se inicia. Fazem perguntas, espantam-se com facilidade, fazem graça com detalhes mínimos. Suas rotinas não estão totalmente estruturadas, daí todas as possibilidades pela frente e à inteira disposição.



Entraves práticos

Penso que a página em branco (a folha de papel ou a tela do computador) é o nosso maior entrave prático para criar. Isso porque ela, a página em branco, representa todas as possibilidades existentes e inúmeras outras mais. Diante da página em branco temos total liberdade para inventar e escrever o que bem entendermos. E isso deveria ser a solução, mas não parece ser. Ao menos não à primeira vista. O fato é que não estamos mais acostumados com a liberdade; aquela que perdemos quando deixamos de ser crianças. Por mais que possamos apregoar aos sete ventos e quatro cantos que amamos a liberdade, nós, de fato, a tememos do fundo de nossas alminhas apavoradas e sedentas de segurança. Sentir-se livre dá trabalho. Sentir-se livre é encararmos nossas inseguranças de frente e arrancar delas o sumo de nossos desejos, que são a antítese de tudo isso. A insegurança é prima irmã da inércia; ao passo que a liberdade só sobrevive colada à ação.



Tudo é permitido

O escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, prêmio Nobel de Literatura em 1982, falou em uma entrevista que ficou muito espantado quando leu Franz Kafka pela primeira vez e logo na primeira linha de A Metamorfose estava escrito: “Naquela manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa viu-se na cama, transformado em um gigantesco inseto...”. E então, nas palavras do próprio Garcia Marquez: “ao ler isso, pensei comigo mesmo que não sabia que era permitido escrever esse tipo de coisa. Se soubesse, teria começado a escrever muito antes”. Sim, nos é permitido escrever o que quisermos; mas não podemos correr atrás da beleza com o medo em nosso encalço. Quando deixamos de temer nossas vozes interiores, também deixamos de temer nossos críticos exteriores; e é bem aí que voltamos a ser crianças.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Inaugural.com

A cada vez que eu penso em NÃO arriscar...
eu me lembro de que eu sou apenas UM indivíduo entre outros SETE BILHÕES de indivíduos (que é a quantidade de seres humanos hoje existentes no planeta terra);
compondo UMA ÚNICA espécie entre outras TRÊS MILHÕES de espécies já classificadas, dentre outras 27 MILHÕES de espécies ainda NÃO classificadas, conforme acredita a ciência hoje;
e que vive em um planetinha que gira em torno de uma estrelinha (estrela de quinta grandeza – que é o sol) que é UMA entre outras 100 BILHÕES de estrelas que compõem UMA ÚNICA GALÁXIA, entre outras 200 BILHÕES de galáxias em um DOS UNIVERSOS POSSÍVEIS (a ciência hoje não trabalha mais com a ideia de UNIVERSO, mas com a noção de MULTIVERSO) e que, segundo a teoria do Big Bang, vai desaparecer.


E aí eu penso: o que é que eu tenho a perder?!